
Abordagem Centrada na Pessoa
A Abordagem Centrada na Pessoa (ACP) desenvolveu-se a partir da Terapia Centrada no Cliente, elaborada pelo psicólogo humanista norte-americano Carl Ransom Rogers.
No início de sua atividade como psicólogo, por volta de 1930, Rogers começou a perceber que sua abordagem estava se diferenciando e se afastando das práticas então vigentes. Em 1940, durante um discurso na Universidade de Minnesota, Rogers lançou sua nova terapia - não coercitiva e não diretiva, enfatizando o relacionamento terapêutico como uma experiência de crescimento para o cliente.
Baseado em sua experiência clínica e com o objetivo de fundamentar a Psicologia como ciência, Rogers sistematizou suas teorias nas décadas de 40 e 50, inicialmente na Universidade de Ohio e depois na Universidade de Chicago. Sua Teoria da Psicoterapia (ou Teoria da Mudança da Personalidade) abrangia as condições do processo terapêutico, o próprio processo terapêutico e os resultados da psicoterapia. A Teoria da Personalidade compreendia as teorias da organização, desorganização e reorganização da personalidade.
Teorias e métodos foram desenvolvidos a partir de observações clínicas, construindo hipóteses que eram testadas, gerando um conjunto significativo de pesquisas.
Constituindo-se como uma psicoterapia fenomenológica-existencial, a Terapia Centrada no Cliente recebeu esse nome por focar na experiência vivida do cliente, em seu contexto existencial conforme percebido e vivenciado por ele no momento presente. Seu pressuposto básico é a concepção do ser humano como possuidor de uma tendência inata (sistema motor da personalidade) para o desenvolvimento e a expansão harmoniosa de si mesmo, incluindo suas capacidades de criatividade, autogoverno e autoavaliação. Essa tendência necessita encontrar certas condições em suas relações interpessoais mais significativas para se atualizar de maneira construtiva.
Cabe ao terapeuta oferecer essas condições ("aceitação positiva incondicional", "congruência" e "compreensão empática") na relação terapêutica para facilitar o processo de reorganização da personalidade do cliente, evoluindo em direção a uma maior autonomia, uma percepção mais profunda, objetiva e flexível de si mesmo e da realidade, funcionando menos defensivamente e mais "aberto à experiência". Isso resulta em um maior acordo interno entre o "conceito de si mesmo" e a experiência, num contínuo "processo de avaliação organísmica" (sistema regulador da personalidade).
No final da década de 50 e início dos anos 60, Rogers reformulou e aprimorou suas teorias do processo terapêutico, das condições desse processo e da teoria da personalidade, especialmente com as contribuições de Eugéne Gendlin e sua experiência com pacientes esquizofrênicos hospitalizados, além da influência da filosofia existencial.
A partir da década de 60, houve uma maior aplicação dos princípios e atitudes básicas dessa abordagem em outras áreas de relação humana, como família, educação (Ensino Centrado no Aluno), administração (empresas e outras organizações) e em grupos interculturais em conflito (brancos e negros, norte-americanos e 'chicanos', católicos e protestantes). Surgiram também experiências de Comunidade de Aprendizagem Grupo-Dirigida (Workshops Centrados na Pessoa), compondo o que veio a ser conhecido como Abordagem Centrada na Pessoa (ACP).
Nos primeiros 30 anos, o foco foi o desenvolvimento de um sistema de mudança da personalidade, centrado no indivíduo, enquanto nos 30 anos seguintes, houve uma orientação crescente para as interações sociais. Quando faleceu em 1987, aos 85 anos, Rogers ainda estava ativo, participando de encontros sobre a Abordagem pelo mundo. O Centro de Estudos da Pessoa, fundado por ele em 1963, continua ativo em La Jolla, na Califórnia.
Rogers visitou o Brasil duas vezes - em 1977 e 1985 - participando de workshops em Recife, Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília. Foi a partir de sua primeira visita ao Brasil que houve uma maior organização e troca entre os profissionais identificados com a ACP no país, resultando, por exemplo, na formação do Centro de Psicologia da Pessoa no Rio de Janeiro.
Atualmente, existem várias associações e núcleos da ACP no Brasil, realizando pesquisas, formando profissionais, promovendo seminários e cursos. Profissionais em diferentes países, espalhados pelos vários continentes, também adotam a Abordagem.
A partir do I Fórum Internacional da ACP, realizado no México em 1982, profissionais dos países latino-americanos sentiram a necessidade de aprofundar as trocas sobre seus contextos sócio-político-econômicos, resultando nos Encontros Latino-Americanos da ACP, com o primeiro sendo realizado no Brasil em 1983. Desde então, os fóruns internacionais ocorrem a cada três anos e os encontros latinos a cada dois anos.
A ACP faz parte do movimento da Terceira Força na Psicologia, integrando-se com outras correntes da Psicologia Humanista-Existencial (como Gestalt, Psicologia Existencial, neo-freudianos e Jung), compartilhando a mesma fundamentação filosófica e enfatizando a consciência como atributo essencial da pessoa humana. Isso a capacita com uma liberdade que envolve escolha, decisão e responsabilidade, encarando o ser humano como um processo contínuo de tornar-se cada vez mais complexo, profundo e amplo ao longo do tempo.
Leia mais sobre o tema:
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Psicoterapia e Relações Humanas, vol. I e II - Carl Rogers e G. Marian Kinget, Editora Interlivros
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Tornar-se Pessoa - Carl Rogers, Editora Martins Fonte
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Grupos de Encontro - Carl Rogers, Editora Martins Fontes
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Sobre o Poder Pessoal - Carl Rogers, Editora Martins Fontes
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Liberdade para Aprender - Carl Rogers, Editora Interlivros
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A Pessoa como Centro - Carl Rogers e Rachel Rosenberg, Editora E.P.U.
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Em Busca de Vida - Carl Rogers et al., Editora Summus